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Mercado de trabalho: como ser a bolacha mais fofa do pacote?

[Considerando que o pacote é gigante e cabem lá dentro milhões de outras bolachas?]

O pacote a que me refiro é o mercado de trabalho. Um “pequeno” mundo dentro de outro, onde milhares de pessoas competem por uma vaga, numa espécie de jogo das cadeiras frenético, cujas regras mudam a cada instante.

Com a avalanche tecnológica, a democratização da Internet e o acesso à informação, nunca antes tivemos tantas competências e, ao mesmo tempo, tanta dificuldade em geri-las. E é neste universo de “sobre-qualificações” que nos encontramos, será nele que irás aterrar após ou durante a vida académica, e no meio do qual – caso o sucesso esteja na tua lista de tarefas – terás que te distinguir e fazer notar, criando impacto positivo.

Mas então, como fazer isso? Como é que te destacas por entre a multidão? O que fazer para te tornares apetecível para o mercado e seres TU a bolacha mais fofa do pacote (no meio de outras igualmente saborosas)?

Como vimos anteriormente, a empregabilidade é bem mais do que a “capacidade para arranjar um emprego ou para se adequar profissionalmente a um emprego”. Quando falamos de empregabilidade estamos a falar de um complexo somatório de vários aspectos, que no seu conjunto te podem tornar mais (ou menos) “atractiv@” para ser contratad@ e ter acesso a um emprego. Por outras palavras, o teu grau de empregabilidade representa o potencial para seres absorvid@ pelo mercado de trabalho.

Não é fácil saber concretamente que factores, e que relações entre eles, determinam o quão apetecível tu podes ser no mundo laboral – apesar de existirem já alguns testes que te ajudam a medir esse potencial. No entanto, a experiência (auxiliada pela ciência) tem-nos permitido perceber que as pessoas com maior potencial de empregabilidade nem sempre são as mais inteligentes (no sentido “clássico” da palavra, do ponto de vista do intelecto). No entanto, são geralmente dotadas de uma visão prática e uma capacidade de resolução de problemas que saltam logo à primeira vista.

Conhece o mercado de trabalho

Cada vez mais, empresas e empregadores procuram pessoas que façam acontecer, aliando competências objectivamente intelectuais a outras aparentemente mais subjectivas que vão ganhando um peso crescente na gestão do capital humano. O mercado não quer apenas cérebros brilhantes, mas sim verdadeiros sistemas humanos integrados, que coloquem em interacção o triângulo dinâmico entre mente, corpo e coração.

Atenção… Dito assim até pode parecer, mas isto está longe de ser uma cena bonita, tirada de uma pintura impressionista de Monet. Acorda para a vida! As empresas são egoístas. São porque sim. Porque faz parte da sua natureza economicista. Porque se assim não fosse, dificilmente resistiriam. Portanto, a principal preocupação de uma empresa é e sempre será o lucro. E o lucro só se consegue: aumentando a produtividade, diminuindo os custos… ou ambos.

O mercado de trabalho começou a perceber que as pessoas mais produtivas são as que conseguem funcionar como sistemas eficientes, que utilizam de forma integrada as diversas dimensões humanas e aplicam-nas no seu trabalho, gerando valor. Essas são as pessoas mais apetecíveis, aquelas que a maioria das empresas quer nas suas equipas.

A má notícia para o mercado – e boa notícia para ti – é que pessoas apetecíveis são difíceis de encontrar e, por consequência, são caras. A boa notícia para o mercado – e muito boa notícia para ti – é que, apesar da sua variabilidade, e de não serem absolutas para todos os contextos, as características que favorecem a empregabilidade são identificáveis e são treináveis.

Treina o teu corpo

O mundo do trabalho consegue ser tão exigente que te pode levar ao limite. A universidade vende-nos frequentemente a ilusão de que estamos a estudar para pensar e não para fazer. Nem sempre é assim… mesmo sendo Dr(a), terás que “vergar a mola”. Mas ainda que essa exigência seja mesmo mais mental do que física, é no corpo que, mais tarde ou mais cedo, ela acaba por se reflectir. Vais sentir-te cansad@. Muitas vezes. Muito cansad@. E vais sentir no corpo, é normal.

Mais do que um mero objecto com função estética, pensa no teu corpo como a embalagem que protege o teu Eu. Ele é o invólucro que filtra as pressões externas e amortece o choque. É o “templo” onde habitas, onde tudo começa e tudo termina.

Cuida da tua alimentação e pratica actividade física regularmente. Uma boa saúde e condição física ser-te-ão bastante úteis, para aumentar as tuas defesas e tornar-te mais resistente à dor. Por outro lado, poucas coisas te conseguem dar uma noção tão clara da superação de limites como a prática de um desporto ou actividade física.

Treina os teus processos mentais

Quando pensamos no mercado de trabalho, de pouco ou nada nos serve falar de Inteligência ou de Quociente Intelectual (QI) enquanto medida absoluta. Salvo em áreas muito específicas, que recorrem a testes psicotécnicos baseados no conceito de QI, na maior parte dos processos de recrutamento ninguém quer saber o quão inteligente és, muito menos a tua média de entrada ou até de saída no curso.

Estes números podem ser usados como indicadores, mas são pouco fiáveis quando se trata de predizer o teu sucesso numa empresa. Por isso, mais do que inteligência, o mercado de trabalho quer potencial de aprendizagem. A não ser que sejas sobredotado, a tua inteligência é geralmente contextual, não te foques nela. Foca-te antes em conhecer os teus processos cognitivos – percepção, atenção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem – para os desenvolver e aplicá-los em situações do dia-a-dia. Este treino gera ligações neuronais que aumentam a flexibilidade e capacidade de assimilação do cérebro. Vais precisar disso quando perceberes a quantidade de coisas que a universidade não te ensinou.

Treina as tuas emoções

Sabes aquele colega inconveniente que só vai às aulas teóricas para “picar” o professor com perguntas que não lembram a ninguém? E aquela colega do teu grupo de trabalho que grita com toda a gente quando as coisas não são feitas como ela quer? Pois, mais à frente vais voltar a encontrar pessoas assim, e serão teus colegas de trabalho ou, “melhor” ainda, teus chefes.

Quando se fala de Inteligência Emocional ou de Quociente Emocional (QE), ainda há quem revire os olhos e faz “cara de même”, como se de uma ciência oculta se tratasse. Não é seita nenhuma… as emoções são reais, são biológicas e fazem parte do teu corpo. O perigo sobre elas é que vêm geralmente em estado bruto, ao “natural”, e tornam-se autênticas bombas-relógio que podem, a qualquer momento, rebentar com as relações interpessoais. E se isso acontece com pessoas que escolhemos para fazer parte das nossas vidas, imagina com colegas de trabalho, cuja relação nos é “imposta” e de quem muitas vezes não gostamos ou não nos identificamos.

Uma boa gestão emocional é, cada vez mais, assumida pelas empresas como característica fundamental nos colaboradores que recrutam, uma vez que se reflecte nos ganhos. Um colaborador emocionalmente equilibrado, à partida, produz mais e melhor, ao mesmo tempo que evita erros que acarretam, muitas vezes, perdas avultadas, por conflitos ou falhas de comunicação.

Pensando nos melhores candidatos e formandos com quem me cruzei, ser a bolacha mais fofa do pacote não implica achares-te melhor do que os outros. Ao contrário do que possamos pensar, requer apenas a humildade e coragem para aceitar que és eternamente um work in progress… e viver bem com isso.

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